Mais de 200 casos de estupro já foram registrados em Sergipe este ano

Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, Umbaúba e Lagarto são os municípios sergipanos com mais ocorrências; 51,3% dos casos ocorreram dentro do ambiente familiar

 


Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) indicam que, a cada dez minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. Os números se referem ao ano de 2021 e trazem à tona uma problemática ainda em fortemente presente em nosso país. No mesmo período, Sergipe registrou 586 casos, o que aponta a proporção de 1,6 abusos sexuais por dia em território sergipano.

 

Este ano, de acordo com o Instituto Médico Legal (IML), 219 ocorrências dessa natureza já foram registradas. Entre elas, 192 são vítimas do gênero feminino e 27 do masculino. O órgão revelou também que, em sua maioria, os casos envolviam crianças e adolescentes, entre 4 e 18 anos. Ainda conforme dados do órgão, Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, Umbaúba e Lagarto são os municípios sergipanos com mais ocorrências.

 

Na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL), unidade de saúde referência no acolhimento às vítimas de violência sexual, em média, 200 pessoas iniciam atendimento por terem passado por algum episódio deste tipo todos os anos. E, assim como informado pelo IML, o perfil das vítimas envolve, majoritariamente, crianças e adolescentes, sendo 39% delas entre 11 e 15 anos, conforme planilha de 2021. O documento ainda informa que 23% tinham entre 0 e 5 anos e 14% entre 6 e 10 anos de idade.

 

Outro destaque é o grau de parentesco e proximidade dos agressores com as vítimas. Neste sentido, o relatório indicou que 15% dos crimes foram cometidos pelos próprios pais, enquanto 21% envolveram primos. Irmãos, avôs, tios, padrastos e namorados totalizam 15,3%. Isso indica que 51,3% dos casos ocorreram dentro do ambiente familiar.

 

A assistente social da Maternidade, Ingrid Lima da Silva, explica que essa é uma problemática ainda fortemente presente na sociedade e, por isso, é preciso ficar atento aos sinais. “Se a criança não quer ficar sozinha com aquele adulto ou se essa criança apresentar mudança de comportamento com uma pessoa específica, e esse adulto pode ser pai, padrasto, avô, irmão, tio, fiquem atentos às atitudes desse individuo com a criança. Mas é importante lembrar que, também temos agressores do sexo feminino, temos mulheres que também realizam atos de violência sexual contra crianças e adolescentes, então, quando a criança começa a ter crise de choro, e pede para a mãe ou responsável não sair, fiquem atentos”, alerta.

 

“Quando a criança não quer o contato com algum adulto específico, isso não quer dizer que aquele homem está sendo agressor, mas, de repente, a criança não querer mais ficar sozinha com nenhuma pessoa do sexo masculino. Infelizmente, a maioria dos agressores são aquelas pessoas que têm a confiança da criança, aquelas que deveriam guardar, por zelar e por cuidar daquela criança”, reforça.

 

Outros sinais

A profissional também indicou outros sinais que podem chamar a atenção para a problemática e, com isso, contribuir com a libertação das vítimas desse tipo de situação. “Aquela criança que não quer mais sair de casa, que fica retraída. Também é importante observar se era comunicativa e passou a ter dificuldade de se comunicar com outras pessoas. Ainda tem o comportamento na escola, o comportamento com os colegas dela, tornando-se uma criança que gostava de estudar, que gostava de ir para a escola, que gostava de brincar e, de repente, não tem mais aquela alegria, aquela vontade de ir para a escola, aquela vontade de fazer aquelas brincadeiras comuns”, orienta.

 

“É neste sentido que a gente ressalta para que os pais e responsáveis por essas crianças estejam atentos para as mudanças de comportamento. A alteração do sono, quando a criança já tem 7 ou 8 anos, que não urinava mais na cama, e volta a urinar, o distúrbio afetivo, quando a criança se torna apática e perde o interesse por brincadeiras comuns a ela. Em alguns casos, também, a criança passa a ter crises de ansiedade e se torna uma criança depressiva”, acrescenta.

 


Acompanhamento médico

Na Maternidade, a assistente social pontua que o trabalho se dá em caráter de urgência. “Quando a vítima sofre violência sexual no prazo de 72 horas, é importante que seja atendida, para que se faça uso da profilaxia, que são os medicamentos que precisam usar nesse prazo, além da pílula do dia seguinte, o coquetel retroviral do HIV e das hepatites. Após esse atendimento de urgência, ela continua sendo acompanhada pela maternidade. Esse acompanhamento ambulatorial é de, no mínimo, seis meses”, pontua.

 

O acompanhamento se faz necessário por, conforme relato da profissional, diminuir os impactos da violência sofrida no âmbito da saúde, tanto mental quanto física. “Existem algumas patologias físicas como contusões, escoriações, algumas inflamações, sangramentos, as IST’s, ou seja, algumas doenças sexualmente transmissíveis. Muitas dessas vítimas também apresentam algumas lesões genitais, algumas infecções genitais e nós também temos as patologias psicológicas ou psiquiátricas. E é aí que nós temos a principal, que é a mudança de comportamento dessas vítimas, principalmente as crianças”, detalha.

 

Onde procurar ajuda?

Caso esteja passando por uma situação de violência, ou conheça alguém que precise de ajuda, acione às autoridades:

 

Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL): (79) 3225-8679

Denúncias – 180

Central de Atendimento à Mulher – 181

Disque Denúncia Polícia Civil – 190

 

|Por John Santana/Da equipe De Hoje

||Fotos: 1: Ilustração/ConJur – 2: Divulgação/Assessoria de Comunicação

 

 

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