Estimativa de inflação caiu de 8,8% para 5,8%, ainda acima da meta
O Banco Central (BC) elevou a
projeção para o crescimento da economia este ano. A estimativa para a expansão
do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os bens e serviços produzidos no
país) passou de 1,7% para 2,7%. A projeção consta do Relatório de Inflação,
publicação trimestral do BC, divulgado hoje, 29.
“A surpresa no crescimento do
segundo trimestre, os resultados iniciais do terceiro, e estímulos não
contemplados no Relatório de Inflação anterior – notadamente o aumento do valor
do benefício do Auxílio Brasil e o arrefecimento da inflação, resultante, em
grande medida, da redução de tributos sobre combustíveis, energia e serviços de
comunicação – são os principais fatores para a revisão”, explicou o BC.
O último relatório foi divulgado
em junho.
No segundo trimestre, o PIB
cresceu 1,2% em relação ao trimestre anterior, puxado pelo aumento do consumo
das famílias, a retomada dos serviços presenciais e o avanço dos transportes de
carga e de passageiros. Foi o quarto resultado positivo consecutivo do
indicador após o recuo de 0,3% no segundo trimestre do ano passado. Segundo o
BC, uma nova expansão deve ser registrada no terceiro trimestre de 2022, “mas
em magnitude menor do que a observada nos últimos três trimestres”.
Entre os componentes da oferta, a
previsão de alta para a indústria foi alterada de 1,2% para 2,4%, com melhora
nas previsões para todos os setores, com exceção da indústria extrativa. Em
serviços, a estimativa foi revista de 2,1% para 3,4%, com elevação nas
estimativas de crescimento para todos os setores, exceto para serviços
ofertados pelo governo.
Em sentido oposto, a projeção
para a agropecuária foi alterada de alta de 2,2% para estabilidade, em linha
com revisões do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que
apresentaram ligeira redução nas projeções para a produção de grãos e forte
recuo na previsão para cana-de-açúcar. No mesmo sentido, as expectativas para a
pecuária foram reduzidas, refletindo dados mais recentes de produção de carne,
leite e ovos disponibilizados pelo IBGE.
Com relação aos componentes
domésticos da demanda, houve elevação nas projeções para o consumo das
famílias, de 1,7% para 3,9%, e para a formação bruta de capital fixo das
empresas, de queda de 2,7% para queda de 0,4%, e redução na projeção para o
consumo do governo, de 1,8% para 0,7%. As exportações e as importações de bens
e serviços, em 2022, devem variar, na ordem, 1,5% e queda de 2,5%, ante
projeções respectivas de 2,5% e queda de 4% no Relatório de Inflação anterior.
Pela primeira vez, o BC trouxe a
projeção para o PIB de 2023. A estimativa é de crescimento de 1%, “sob
influência da esperada desaceleração global e dos impactos cumulativos da
política monetária doméstica”.
Inflação
A inflação, calculada pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve encerrar 2022 em 5,8%, no
cenário com taxa de juros (Selic) em 13,75% ao ano e câmbio partindo de R$
5,20. No relatório anterior, em junho, a projeção era 8,8%.
O BC também projeta que a
inflação deve ser de 4,6% em 2023 e de 2,8% em 2024 e 2025. Nessa trajetória, a
taxa Selic chega ao final de 2023, 2024 e 2025 em 11,25%, 8% e 7,50%,
respectivamente.
A meta para 2022, definida pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,5% de inflação, com intervalo de
tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite
inferior é 2% e o superior 5%. Para 2023 e 2024, o CMN estabeleceu meta de
3,25% e 3% para o IPCA, respectivamente, também com 1,5 ponto percentual de
tolerância.
No relatório de junho, o BC
reconheceu oficialmente o estouro da meta deste ano, mas, agora, reduziu essa
probabilidade. “Em termos de probabilidades estimadas de a inflação ultrapassar
os limites do intervalo de tolerância, destaca-se, no cenário de referência, a
redução da probabilidade de a inflação ficar acima do limite superior em 2022,
que passou de próximo de 100% no relatório anterior para cerca de 93% neste
relatório, e o aumento da probabilidade para 2023, de cerca de 29% para em
torno de 46%”, aponta o relatório.
Segundo o BC, a inflação
acumulada em quatro trimestres atingiu o pico de 11,9% no segundo trimestre
deste ano, e deve cair de forma significativa nos trimestres seguintes.
Especificamente para a revisão para baixo de 2022, o relatório destaca, entre
outros, o efeito das reduções de tributos federais sobre combustíveis, energia
elétrica e comunicações. Já a elevação das projeções para 2023 - de 4% para
4,6% - resultou, justamente, da hipótese de retorno das tributações sobre
combustíveis no início do ano que vem, além da depreciação cambial e de
indicadores de atividade econômica mais fortes do que o esperado.
Com as quedas recentes da
inflação, o Banco Central encerrou o ciclo de elevação da Selic e manteve a
taxa básica em 13,75% na última reunião do Comitê de Política Monetária
(Copom), na semana passada. Essa foi a primeira pausa nas elevações após 12
altas consecutivas, em um ciclo que começou em meio à alta dos preços de
alimentos, de energia e de combustíveis.
Entretanto, a instituição
considera que a inflação ao consumidor continua elevada e sinalizou que “não
hesitará” em retomar o ciclo de alta caso o processo de desinflação não
transcorra como esperado.
Esse é o principal instrumento
usado pelo Banco Central para alcançar a meta de inflação. A elevação da Selic,
que serve de referência para as demais taxas de juros no país, ajuda a
controlar a inflação, porque a taxa causa reflexos nos preços, já que juros
mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, evitando a demanda
aquecida.
| Da Agência Brasil
|| Foto: Marcello Casal
Jr/Agência Brasil