Devido o aumento do envelhecimento da população, OMS prevê aumento de casos
A Organização Mundial da Saúde
(OMS) estima que cerca de 55 milhões de pessoas vivam com algum tipo de
demência, sendo a mais comum a doença de Alzheimer, que atinge sete entre dez
indivíduos nessa situação em todo o mundo. A OMS alerta para a tendência de
aumento preocupante desses números, com o envelhecimento da população.
Estimativas da Alzheimer’s Disease International, sediada no Reino Unido,
mostram que os números globais poderão chegar a 74,7 milhões, em 2030, e 131,5
milhões, em 2050.
Já aqui no Brasil, dados do
Ministério da Saúde indicam que em torno de 1,2 milhão de pessoas têm a doença
e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.
Nesta quarta-feira, 21, é Dia
Mundial da Doença de Alzheimer, criado pela Associação Internacional do
Alzheimer. No Brasil, a data marca o Dia Nacional de Conscientização da Doença
de Alzheimer, instituído para esclarecer os brasileiros sobre a importância da
participação de familiares e amigos nos cuidados aos diagnosticados com a
doença.
“A doença de Alzheimer se
manifesta por uma disfunção em que alguns neurônios do nosso cérebro começam a
morrer”, disse à Agência Brasil o neurologista Silvio Pessanha Neto, diretor do
Instituto de Educação Médica (Idomed). As doenças neurodegenerativas têm todas
esse mesmo perfil. “Dependendo da localização desses neurônios, vão ocorrer
sinais e sintomas diferentes. Mas a fisiopatologia é a mesma”, destacou o
médico.
No caso do Alzheimer, um conjunto
de neurônios sofre um processo defeituoso e começa a morrer. Como esses
neurônios são justamente aqueles responsáveis pela memória, o paciente começa a
ter incapacidade para gerar novas memórias. “Começa o esquecimento relacionado
a eventos recentes”.
Pessanha explica que os primeiros
sinais são identificados pela família e por amigos. “O indivíduo começa a
esquecer coisas, como o nome dos netos; começa a repetir a mesma pergunta
várias vezes; não consegue aprender coisas novas”.
Mais jovens
O Alzheimer é uma das formas de
demência neurodegenerativa que, geralmente, afetam os idosos, já que trata-se
de um processo lento e progressivo. Os sintomas começam, em geral, depois da
sexta ou sétima décadas de vida. Para especialistas, a doença em jovens é muito
rara e ocorre quando há predisposição genética para a doença.
“O jovem, entendido como alguém
na faixa de 40 anos, quando tem [Alzheimer], esse processo começa muito
precocemente, porque é preciso muito tempo para essa disfunção se manifestar”,
diz Pessanha.
O especialista esclarece ainda
que o Alzheimer não pode ser confundido com a demência senil: “o cérebro
envelhece, como todo o corpo envelhece. Alzheimer é a doença. Não é o envelhecimento natural do nosso cérebro”.
Ferramenta
O médico nuclear e membro titular
da Sociedade Europeia de Medicina Nuclear, José Leite, conta que a medicina
ganhou importantes aliados para a detecção do Alzheimer, como um teste de
imagem não invasivo, chamado PET Amiloide Florbetabeno (PET-CT com Florbetabeno-18F).
“O exame é capaz de fazer a medição do volume de placas beta amiloides que,
quando acumuladas, interferem no funcionamento das células cerebrais e são
consideradas como digitais do Alzheimer pelos médicos”.
O exame é uma novidade no país e
importante porque potencializa o diagnóstico. Como é uma doença progressiva,
quanto o diagnóstico mais chances de iniciar um tratamento correto para
melhorar a qualidade de vida do paciente. “É muito importante porque, quanto
antes tiver o diagnóstico, o médico pode tratar melhor, começar a medicar o
paciente para que se reduza a velocidade com a qual os neurônios começam a
morrer. Aí, você eleva a qualidade de vida e o prognóstico do paciente melhora
muito”, avalia Pessanha.
Segundo Marcus Tulius,
neurologista do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) e pesquisador da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), o novo exame é uma ferramenta para auxiliar no
diagnóstico, mas, isoladamente, não é suficiente.
“Ele fortalece a hipótese clínica. Possibilita
a detecção precoce da condição e, juntamente com a avaliação dos sintomas
existentes, é possível tentar estabilizá-los”.
Estímulos
Marcus Tulius destacou que a
melhora da qualidade de vida do paciente com Alzheimer é propiciada quando se
faz um tratamento mais precoce, “fazer com que a pessoa e a família se preparem
para essa doença, apesar de saber que a doença vai progredir no futuro. Os
medicamentos fazem com que essa evolução seja mais lenta”.
O Alzheimer é uma doença sem cura
e não há uma prevenção comprovadamente eficiente. A prevenção consiste em
manter uma atividade física e mental ativa, ler muito, escrever, fazer
palavras-cruzadas, quebra-cabeças. “Quem ocupa o cérebro adia a doença”, diz
Pessanha.
Além dos estímulos mentais, há
evidências cada vez maiores de que exercícios físicos são benéficos para a
prevenção e tratamento do Alzheimer. Para o ortopedista e especialista em
Medicina do Esporte, André Siqueira, a atividade física regular, como por
exemplo as caminhadas, não apenas protege contra alguns fatores de risco para o
surgimento do Alzheimer, como hipertensão, colesterol alto e diabetes, como
também traz benefício na velocidade de raciocínio, favorece a manutenção da
memória e ajuda na prevenção do declínio cognitivo.
Estudos recentes relacionam o
Alzheimer com outras doenças e, por esse motivo, um cuidado com a saúde em
geral pode adiar o desenvolvimento da doença. “A gente sabe hoje que Alzheimer
está ligado muito ao diabetes, à hipertensão, ao tabagismo, à síndrome da
apneia obstrutiva do sono, a quadros de depressão. Então, se você precocemente
trata essas situações, isso diminui o risco de o idoso, quando chega à terceira
idade, desenvolver Alzheimer”, diz Marcus Tulius.
Apoio
O suporte da família ao paciente
com Alzheimer é fundamental. “A pessoa está com uma enfermidade. Ela não
confunde o nome do neto, por exemplo, porque quer. Tento pedir que a família
apoie, estimule, leve para o cinema, o museu, o teatro, leve para passear, tenha
paciência porque esses estímulos é que vão manter o paciente, por mais tempo,
com uma qualidade mínima de vida para interagir com as pessoas”, recomenda
Pessanha.
|Fonte: Agência Brasil
||Foto: Daniel Mello/Agência
Brasil