Publicação feita em perfil oficial da TV Câmara repercutiu e gerou diversas críticas nas redes sociais; especialista ouvida pela nossa equipe de reportagem pontuou sobre a real função de uma emissora com concessão pública
A publicação de um vídeo, tendo como destaque a participação da vereadora Sheyla Galba (Cidadania), causou grande repercussão nesta sexta-feira, 10. Nas imagens, divulgadas oficialmente pelo perfil da TV Câmara no Instagram, a parlamentar aparece dançando uma música de cunho sexual juntamente a outros assessores da Câmara Municipal de Vereadores (CMA), de Aracaju. O episódio poderia ser visto com naturalidade, caso não tivesse sido utilizado como cenário principal a própria sede do legislativo – além da divulgação em uma página ligada à uma emissora de televisão pública.
A letra da música dançada pela parlamentar e servidores, embora esteja em alta nas plataformas digitais, induz à prática sexual e sua coreografia confirma a intenção da canção. Inclusive, “Tchuco Nela”, que ganhou sucesso nas vozes dos cantores Wesley Safadão e MC Rogerinho, é uma das mais ouvidas nas redes e festas populares. E, talvez por isso, foi utilizada como trilha sonora para o polêmico vídeo.
No entanto, por se tratar de TV Pública, a publicação do material causou estranheza em muitos profissionais de comunicação e despertou sérias críticas nas redes sociais, justamente pela sua utilização em um espaço legislativo, tendo como ferramenta um canal de comunicação ao cidadão. “A política de comunicação brasileira é formada por três eixos e isso significa que se tem um nicho das emissoras comerciais, das emissoras públicas e das emissoras estatais. As emissoras estatais e públicas têm características diferentes, e as estatais têm o papel de dar publicidade às ações dos governos e suas respectivas legislaturas, como é o caso da emissora em questão”, explica a professora do curso de Comunicação Social da Universidade Tiradentes, Juliana Almeida.
Ainda de acordo com Juliana, que é doutora em Sociologia e referência em legislação de emissoras de televisão e rádio, uma emissora com concessão pública, como a TV Câmara, tem como principal missão a prestação de contas à sociedade sobre o que é feito pelos parlamentares. "Esse é o papel que se confunde, também, com o caráter educativo, porque a programação pode ter espaço para conteúdos educativos, porque essas emissoras não têm fins lucrativos. Qualquer coisa que fuja disso é um desrespeito a própria essência do que são essas emissoras", pontua a especialista.
"Entendo que isso se estende para as redes, também, mesmo que não haja uma lei, uma regulamentação com relação a isso. Mas, se as redes sociais são parte das ações de divulgação dos parlamentares, elas são extensões da programação daquilo que é proposto pelas emissoras. Então, as emissoras estatais têm esse cunho, de publicizar os atos dos parlamentares, no caso. E dancinhas não cabem, não", acrescenta a professora Juliana Almeida.
Em outras regiões do Brasil, o uso das redes sociais em temas importantes para a sociedade já vem ocorrendo há algum tempo, a exemplo do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Paraná que, recentemente, ganhou destaque em uma plataforma digital ao publicar uma série de vídeos em que desembargadores brincavam com adolescentes sobre a importância do título de eleitor. As publicações tiveram grande alcance em diferentes aplicativos de compartilhamento de fotos e vídeos e alcançaram milhares de jovens em todo o país.
Entretanto, diferentemente do embasamento legal exposto pela especialista, a diretora de comunicação da Câmara de Vereadores, Eliz Moura, defende que “rede social não é jornalismo”. "A plataforma é de entretenimento num perfil de entretenimento e jornalismo. Rede social não é jornalismo. Sem nenhuma incompatibilidade. O Instagram, onde foi postado, é uma rede social de informação e entretenimento. A postagem foi feita em rede social Instagram da TV, onde fazemos jornalismo e entretenimento", justifica.
Além disso, a diretora comparou outras questões presentes na sociedade brasileira, alegando que o fato ocorrido na Câmara não foi "fora do normal e legal na vida do cidadão".
"Consideramos a dança uma manifestação cultural e artística. Sem preconceito. O Poder Público brasileiro financia arte, dança, shows, músicas. Se o Poder Público paga é por não existir crime e o povo gosta de ver arte, dança, shows, música. A rede social é pública e usada para o entretenimento", disse.
Porém, mesmo com este entendimento sobre a situação, a publicação foi apagada durante a tarde. A diretora informou, sem dar detalhes, que atendeu a um pedido da parlamentar.
A vereadora Sheyla Galba, por sua vez, resumiu informando que "estava fora do expediente" e foi convidada pela assessoria de comunicação da Câmara Municipal de Aracaju para "participar de um vídeo com a finalidade de aproximar os parlamentares dos internautas".
Confira o vídeo
|Da Redação
||Foto: Reprodução