Segundo levantamento divulgado pela Agência Brasil, estudo analisa dados referentes a 60 mil mulheres de 2004 a 2018
Pesquisa da Universidade de São
Paulo (USP) fez um mapeamento da incidência de malária em gestantes no Brasil.
A abrangência do estudo torna o trabalho inédito, tendo em vista que foi
analisado um longo período, de 2004 a 2018, e envolve mais de 60 mil mulheres,
a partir de dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Malária
(Sivep-Malária), do Ministério da Saúde. Entre os resultados encontrados, está
a observação de que a doença ocorre mais em grávidas de municípios dos estados
do Amazonas, do Acre, de Rondônia e do Pará.
“São os hotspots para a doença,
aquelas regiões que são mais críticas, onde a frequência da doença acontece com
mais evidência. O estudo indica onde seriam necessárias maiores intervenções do
sistema de saúde, de políticas
públicas”, explica Cláudio Romero Farias Marinho, professor do Laboratório de
Imunoparasitologia Experimental do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP),
que coordenou o trabalho. A pesquisa foi apoiada pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e publicada na revista Lancet Regional
Health - Americas.
O grupo coordenado por Marinho
estuda a malária gestacional há 10 anos. “As gestantes, assim como as crianças
com idade até cinco anos, são os principais grupos de risco para desenvolver
uma doença severa, a malária severa. A maior mortalidade do mundo se aplica a
esses dois grupos”, pontuou. A doença é causada por protozoários do gênero
Plasmodium e transmitida pelo mosquito Anopheles. As gestantes infectadas
correm mais risco de ter anemia grave, parto prematuro, aborto e
natimortalidade. O feto também pode ser afetado, apresentando microcefalia ou
ter o crescimento prejudicado.
O trabalho mostra também que
houve redução para aproximadamente metade dos casos no período analisado. “Com
todos os problemas que temos, o Brasil tem um programa muito sério de controle
da malária. A doença tem que ser notificada e esse sistema é alimentado quase
que diariamente. É um sistema de vigilância bastante eficiente”, avaliou. Além
disso, ele destaca o fato de que todo o tratamento é gratuito. “Isso é super
importante, porque isso evita resistência à droga, nós nos certificamos que
realmente a pessoa foi tratada de forma adequada.”
Tratamento
Apesar disso, o estudo revelou
ainda que o tratamento dessas pacientes pode estar sendo feito de forma
inadequada, com a prescrição de um medicamento contraindicado, a primaquina.
Marinho alerta, no entanto, que, como se trata de uma base de dados, é preciso
confirmar essa informação, pois pode haver erro na informação registrada. “Esse
é um importante ponto de alerta, mas cabe às autoridades olhar isso e
verificar, ter um maior controle, verificar a veracidade dessa informação”,
ponderou o pesquisador.
Sob a coordenação de Marinho, o
levantamento foi conduzido pela pós-doutoranda do ICB-USP Jamille Dombrowski,
em parceria com pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP). A partir
dessa análise epidemiológica, o foco do grupo agora é o diagnóstico precoce de
uma complicação da doença, a malária placentária. Nesses casos, o parasita pode
estar na placenta e a gestante sem apresentar sintomas. Dombrowski trabalha,
portanto, em um projeto que quer identificar biomarcadores para que essa
análise possa ser introduzida na rotina do pré-natal.
|Fonte: Agência Brasil
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