Dados da OMS revelam que, atualmente, a amamentação exclusiva chega aos 46% das crianças
Reconhecido há anos como uma
referência mundial em termos de estímulos ao aleitamento materno, o Brasil
busca avançar para garantir que as mães, principalmente aquelas que trabalham
fora de casa, tenham condições para amamentar seus filhos pelo máximo de tempo
possível.
A Organização Mundial da Saúde
(OMS) recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente com leite materno
até os 6 meses de idade. E que, mesmo após a introdução dos primeiros alimentos
sólidos, sigam sendo amamentados até, pelo menos, os 2 anos de idade.
Segundo o Ministério da Saúde, o
aleitamento materno é a forma de proteção mais econômica e eficaz contra a
mortalidade infantil, protegendo as crianças de diarreias, infecções
respiratórias e alergias, entre outras doenças.
De acordo com o ministério, em
1986, o percentual de crianças brasileiras com menos de 6 meses alimentadas
exclusivamente com leite materno não passava de 3%. Em 2008, já tinha atingido
os 41%. Atualmente, a amamentação exclusiva chega aos 46%. Percentual próximo
aos 50% que a OMS estipulou como meta a ser atingida pelos países até 2025.
Além disso, seis em cada dez (60%) crianças são amamentadas até completar 2
anos de idade.
“Para nós, o Brasil é uma
referência. Pensamos que o país tem a melhor legislação do mundo, o que faz
toda a diferença. E há um investimento por parte de várias organizações e do
Ministério da Saúde para que essa legislação seja realmente implementada”,
disse a representante da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) no Brasil,
Socorro Gross, ao participar, hoje (1º), em Brasília, do lançamento da Campanha
Nacional de Aleitamento Materno.
Coordenada pelo Ministério da
Saúde, a iniciativa visa a esclarecer e conscientizar a população sobre a
importância da amamentação, e se insere na Semana Mundial do Aleitamento
Materno, promovida pela Aliança Global pela Amamentação (Waba). Este ano, a
campanha nacional, que tem como lema Fortalecer a Amamentação: Educando e
Apoiando, foca não só nos pais, mas também nos trabalhadores da saúde.
“Mães e pais sabem a importância
de um profissional bem orientado abordar as dúvidas recorrentes no momento
inicial da amamentação. Seja para mães de primeira viagem, seja para aquelas
que já têm mais de um filho, [a orientação é importante] pois amamentar é
sempre diferente. A cada [novo] filho, algo é diferente”, disse a coordenadora
de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, Janini Selva
Ginani.
Engajamento
Janini destacou a importância do
engajamento dos profissionais de saúde para melhorar o índice de recém-nascidos
amamentados durante a primeira hora de vida.
“No Brasil, nossa prevalência de
aleitamento materno na primeira hora de vida é de 62%. É um dado muito superior
às médias mundiais, mas que ainda precisamos melhorar, pois é importante esse
estímulo, esse primeiro aleitamento durante o que chamamos de A Hora de Ouro”,
ressaltou Janini.
A presidente do Departamento
Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP),
Rossiclei Pinheiro, também destacou a importância da capacitação dos
profissionais da saúde e de outros agentes para promover a amamentação na primeira
hora de vida.
“As dificuldades [e as dúvidas
que surgem] nas primeiras horas, nos primeiros dias [após o nascimento], quando
há maior risco de desmame, precisam ser acompanhadas por profissionais de saúde
bem preparados”, defendeu Rossiclei. “Precisamos estimular cada vez mais a
amamentação na primeira hora de vida, independentemente do parto ser normal ou
cesárea, pois a ciência já demonstrou que os bebês que mamam na primeira hora
conseguem ter mais sucesso [em seguir] na amamentação exclusiva até 6 meses.”
Em nota, o Conselho Federal de
Enfermagem (Cofen) manifestou apoio às iniciativas. “Enfermeiros, parteiras,
técnicos e auxiliares de enfermagem já são atores-chave no manejo da amamentação
e dos bancos de leito humano. Nosso esforço é garantir que tenham informação e
formação humana necessárias para realizar esse papel crucial”, disse a
presidente da entidade, Betânia Santos.
“Além de orientar a mãe e atuar
no manejo da amamentação, é importante também envolver os familiares no apoio à
amamentação. O cuidado com o bebê passa pelo cuidado com a recém-mãe”,
acrescentou a conselheira federal Ivone Amazonas, na mesma nota.
Licença maternidade
Eu suas falas durante o evento,
as representantes do Ministério da Saúde, Janini Selva Ginani, e da SBP,
Rossiclei Pinheiro, também destacaram a necessidade de garantias legais que
protejam e estimulem as trabalhadoras a amamentar seus filhos, como a concessão
de licença trabalhista que permita que elas se dediquem às crianças pelo máximo
de tempo possível.
“Licenças maternidade inferiores
a 6 semanas aumentam em 400% a probabilidade da mulher não amamentar o seu
filho ou [recorrer ao] desmame precoce”, alertou Janini, pontuando que, no
Brasil, já há exemplos de boas práticas, tais como as empresas cidadãs,
estimuladas a conceder 180 dias de licença às funcionárias gestantes – 60 dias
além dos 120 previstos em lei. “A questão das trabalhadoras informais, contudo,
é [um aspecto] no qual precisamos avançar para protegê-las.”
O secretário nacional de Atenção
Primária à Saúde, Raphael Câmara, fez um alerta. “Na condição de ginecologista,
peço especial atenção e carinho a aquelas mulheres que não conseguem amamentar,
a fim de evitarmos discriminações. Portanto, não dá para ficar falando que toda
mulher consegue amamentar, pois, por diferentes motivos, há as que não
conseguem e é importante não colocá-las numa posição de que serão menos mães
por causa disso.”
A jornalista Maria Clara Fagundes
proporcionou a amamentação prolongada às duas filhas, mas pôde vivenciar as
vantagens de passar mais tempo afastada do trabalho após dar à luz a sua
segunda menina.
“Minha filha mais velha que,
hoje, está com 8 anos, mamou até os 4. Ela foi reduzindo a demanda
gradualmente, mas antes nós tivemos problemas devido a uma interrupção. Tive
que sair de licença antes do parto e, por isso, voltei a trabalhar antes dela
completar 4 meses. Embora eu a tenha deixado em uma boa creche, acho que ela
ficava sem mamar por um intervalo de tempo muito longo. A partir daí, ela
adoeceu, perdeu peso, teve uma bronquiolite severa. Foi traumático para nós
duas. E ela só se recuperou quando eu mudei de trabalho, passei a deixá-la em
casa, com uma babá, e a ir amamentá-la com mais regularidade. Já com a mais
nova, não houve essa interrupção. Ela está com 3 anos e até hoje continua
mamando ao acordar e na hora de dormir. Acredito que poder amamentá-la por
livre demanda até os 2 anos foi muito positivo, pois ela não sofreu com nada
grave, não teve as coisas que a minha mais velha teve após a precoce redução da
amamentação”, disse a jornalista à Agência Brasil, destacando a necessidade da
gestante contar com o apoio de uma ampla rede de apoio. “Amamentar é difícil.
Exige muita energia e é um trabalho em tempo integral.”
|Fonte: Agência Brasil
||Foto: Marcelo Camargo/Agência
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