O projeto irá ocupar os centros de cultura de Plataforma e Alagados dias 10 e 17 de setembro com exibição da videodança, oficinas de dança e rodas de conversas com mulheres e homens
Inquieta com as questões
sócio-políticas ligadas à condição da mulher na sociedade brasileira e as violências
simbólicas decorrentes do machismo, a artista Thaís Bandeira, que além de
dançarina, é mãe e doula, em comunhão com os multiartistas Luisa Muricy (atriz,
bailarina e cantora), Luiz Antônio Sena Jr. (ator, dramaturgo e cantor) e
Marcelo Galvão (bailarino e coreógrafo) lançam no próximo dia 08 de setembro, a
videodança Ela Não é Minha, com exibição no Sala de Arte Cinema do Museu
(Corredor da Vitória).
A exibição é acompanhada de bate
papo facilitado pela mediadora cultural Poliana Bicalho. Após o lançamento, a
videodança ficará em temporada virtual até 25 de setembro, no canal da
organização feminista Tamo Juntas, com a qual a iniciativa artística tem uma
parceria.
Ela não é minha, criada
coletivamente sob a direção de Thaís Bandeira, mescla a linguagem de dança,
teatro e audiovisual para refletir e criticar o sistema patriarcal, que se
sustenta a partir do controle e da inferiorização do corpo feminino, o que
desencadeia uma série de violência com diversos níveis de danos.
"Nos interessa gerar uma
comunicação direta, que desconcerta e quebra a naturalização da violência. Por
isso, desenvolvemos uma obra audiovisual que mescla o teatro e a dança. A
palavra para uma comunicação sem contorno e sem resvalo. A poética da dança
permite ampliar a sensibilidade e a percepção da temática", descreve
Bandeira.
A cenografia - uma casa simples e
outra em ruínas, uma metáfora ao ruir da estrutura patriarcal, potencializam o
discurso de combate ao machismo e à misoginia. Situações de violência simbólica
estão presentes nesta narrativa, como na cena em que a mulher é constantemente
interrompida em sua fala, o assédio sexual disfarçado de elogio, nas situações
de afeto entre o casal que logo se transformam em tensão, até a ameaça direta
de morte, uma forma grave de violência.
Elas & Elos
Diferentes níveis de agressão se
configuram como processos de violência no cotidiano das mulheres, não é preciso
que ocorra o “tapa” para ser considerada uma agressão. De acordo com a Lei
Maria da Penha, aprovada em 2006, há cinco tipos de violência doméstica e
familiar: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.
Por este motivo, Thaís Bandeira
soma as potências discursivas do Ela Não é Minha a outro projeto sob sua
idealização, o projeto Elas & Elos - que está em sua segunda edição. Além
de gerar um produto artístico-cultural, convoca as pessoas a vivenciarem essa
temática no corpo através das oficinas de dança e de um debate crítico através
das rodas de conversa com mulheres e homens.
Estas atividades que integram o Elas & Elos ocorrerão nos dias 10 e 17 de setembro, a partir das 14h até
às 17h, no Centro Cultural de Plataforma e Alagados, respectivamente, para
pessoas a partir de 15 anos, trabalhadores em geral, moradores dos bairros de
Plataforma, Alagados e arredores.
As oficinas de dança, ministradas
por Luísa Muricy, Luiz Antônio Sena Jr, Marcelo Galvão e Thaís Bandeira,
oferecem aos participantes a possibilidade de corporificar os temas trazidos
pela obra artística. Após a oficina será exibido a videodança Ela Não é
Minha.
Em seguida, ocorrem as rodas de
conversa, momento em que o público se encontra mobilizado emocionalmente pela
abordagem artística dos temas. A roda de mulheres, conduzida pela advogada e
copresidenta da organização Tamo Juntas, Letícia Ferreira, tem caráter
instrutivo e jurídico de fácil assimilação sobre os direitos e respeito à
mulher, orientações para o reconhecimento da violência e encaminhamento legal.
"Reconhecer é uma etapa
fundamental do enfrentamento e rompimento do ciclo da violência.
A aproximação com a Tamo Juntas
traz força e potência para a discussão pretendida pela realização do projeto.
Esta é a tônica deste encontro”, declara Thaís Bandeira.
Já a roda de homens, conduzida
pelo terapeuta Carlos Aragão, com experiência em mediar grupos de homens para a
auto reflexão e responsabilização da agressão contra a mulher, tem caráter de
sensibilização e despertar a consciência sobre o ciclo da violência contra o
feminino. Um olhar para dentro, facilitado por um terapeuta experiente na
condução de grupos de homens dispostos a se revisarem e se libertarem dessa
toxicidade. “Se curarmos os homens, curamos a humanidade”, afirma Aragão, que é
terapeuta, reikiano.
Os artistas envolvidos na criação
da videodança também farão parte destes momentos de diálogos junto aos demais
participantes. Vale pontuar que, entre os dias 13 e 15 de setembro, essas
mesmas rodas e oficinas ocorrerão no circuito virtual através da plataforma de
conferência ZOOM. O projeto Ela Não é Minha tem o apoio financeiro do Estado
da Bahia, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural
do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.
I Edição
Em março de 2021, período que
Salvador estava em regime de lockdown, foi realizada a primeira edição do Elas
& Elos com o lançamento da videodança Mesa Posta, numa temporada virtual
com noites de debate entre as artistas envolvidas e profissionais atuantes na
defesa dos direitos da mulher, sob a coordenação de Thaís Bandeira e Letícia
Ferreira (Tamo Juntas).
Dados
Os índices brasileiros de
violência e feminicídio estão entre os mais altos do mundo. Em 2021, de acordo
com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, em média, uma mulher foi
vítima de feminicídio a cada 7 horas, um
total de 1.319 feminicídios no país. Cerca de 57 mil mulheres foram vítimas de
estupro, um a cada 10 minutos. Outro
dado alarmante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), é que uma em
cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de
violência durante a pandemia de Covid (2020-2021), ou seja, cerca de 17 milhões
de mulheres (24,4%) sofreram violência física, psicológica ou sexual no último
ano.
Tamo Juntas
O projeto conta com apoio
especial da Organização Tamo Juntas para a exibição de seu conteúdo artístico,
além da realização e mediação de conteúdos reflexivos. As redes sociais da
Organização serão os locais disparadores dos conteúdos do projeto, além de
espaço para debate sobre os temas apresentados na videodança.
A Tamo Juntas, Assessoria
Multidisciplinar Gratuita para Mulheres em Situação de Violência, é uma
organização não governamental, sem fins lucrativos, sediada em Salvador/BA. É
uma organização feminista composta por mulheres profissionais que atuam
voluntariamente na assistência multidisciplinar a mulheres em situação de
violência e que possui representação em diversas regiões do Brasil.
|Fonte: Assessoria de Comunicação
|| Foto: Caique Silva