Pesquisa do BC faz parte do Relatório de Economia Bancária
A adoção de faturas de cartão de
crédito que apresentam linguagem simplificada e destaque para informações
relevantes sobre as opções de pagamento tem o potencial de melhorar o
entendimento sobre esse produto, incentivar melhores decisões financeiras e
reduzir o endividamento da população. Em estudo divulgado hoje, 5, pelo Banco
Central (BC), o órgão avalia que esses efeitos parecem ser ainda maiores para
as pessoas com menor escolaridade.
O Banco Central realizou um
experimento para investigar se diferentes layouts (forma que as informações são
distribuídas) de faturas de cartão melhorariam o entendimento das condições de
uso do produto e potencialmente afetariam as decisões de pagamento da fatura
total ou parcial. O estudo foi conduzido pelo BC, em parceria com a Empresa de
Consultoria e Pesquisa Plano CDE e com apoio financeiro da Fletcher School of
Law and Diplomacy, escola da universidade norte-americana Tufts University.
O experimento submeteu grupos de
participantes a diferentes layouts das faturas de cartão de crédito. Em
seguida, eles preencheram um questionário que tratava do entendimento das
faturas e de tomada de decisão. Os desenhos alternativos das faturas, em
relação aos layouts de faturas de cartão de crédito existentes, permitiram
testar soluções baseadas em ciências comportamentais.
De acordo com o BC, o resultado
mostrou que os participantes que receberam as faturas com os novos layouts
compreenderam melhor os dados apresentados e estavam mais bem informados para
identificar as consequências de aceitar o crédito rotativo ou pagamento da
fatura em parcelas, modalidades que tem juros maiores.
O cartão de crédito é bastante
utilizado no Brasil. Segundo o BC, em 2021, aproximadamente 65 milhões de
cidadãos, quase 40% da população adulta, realizaram mais de 200 milhões de
operações mensalmente. Em média, as famílias têm cerca de 30% de suas dívidas
com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) relacionadas ao cartão de crédito.
“Apesar da conveniência do uso do
cartão como meio de pagamento, sua utilização desatenta pode custar caro ao
usuário – por exemplo, quando ele deixa de pagar o valor integral da fatura e,
consequentemente, toma o crédito rotativo ou utiliza a opção de parcelamento.
Com taxas de juros médias anuais superiores a 300%, essas modalidades de
crédito são as mais caras do país e são utilizadas principalmente por pessoas com
renda inferior a dois salários mínimos”, alertou o BC.
Simplificação
Segundo o órgão, além da
desatenção, a complexidade do produto, o baixo nível de letramento financeiro
dos usuários e as faturas confusas são alguns dos fatores que podem resultar na
utilização indesejada do crédito rotativo ou parcelamento. “Nesse sentido, a
simplificação das faturas de cartão de crédito é vislumbrada como possível
facilitador para melhorar o perfil de uso desse instrumento”, argumentou.
A hipótese principal do experimento
é que as informações veiculadas pelas faturas dos cartões de crédito costumam
ser apresentadas de forma técnica e confusa, o que limita o entendimento do
cidadão e incentiva o pagamento de valores menores, aumentando o gasto com
juros. Portanto, ao simplificar as faturas, espera-se que as pessoas entendam
melhor o uso e os riscos desse produto financeiro. “Ao reorganizar as
informações, espera-se fornecer incentivos adicionais para decisões de
pagamento que resultem em valores [de pagamento] mais elevados, reduzindo
custos de juros e taxas a que os consumidores geralmente incorrem”, diz o BC.
De acordo com o estudo divulgado
pelo órgão, que integra o Relatório de Economia Bancária, também foi observada
uma forte influência na decisão de pagamento ao inserir um valor pré-preenchido
maior na tela de pagamento da fatura, em aplicativos online. “Isso demonstra
que, por mecanismos de ancoragem ou escolha padrão, em geral, o valor que
aparece nessa caixa de resposta no momento do pagamento influencia a decisão de
pagamento do consumidor”, diz o BC.
Amanhã, 6, o BC divulgará a
íntegra do Relatório de Economia Bancária de 2021. Assim como este, o órgão já
adiantou alguns boxes de informação, que são trechos com estudos especiais
dentro do documento. O mercado de crédito durante a pandemia de covid-19, as
emissões de títulos relacionados à sustentabilidade e o mercado de títulos no
Brasil foram os temas tratados pelo BC nos boxes.
| Da Agência Brasil
|| Foto: Marcello Casal
Jr/Agência Brasil