Crianças pardas ou pretas ainda são maioria na fila de espera da adoção

Em Aracaju, segundo o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), 25 crianças estão aptas à adoção. Destas, 21 são pardas ou negras, o que representa 84% do total de crianças que estão à espera de um novo lar

 


De um lado, pais que aguardam a chegada da tão esperada aprovação do processo de adoção pela Justiça da Infância e Adolescência. Do outro, crianças na esperança por dias melhores compartilhados em família. De ambas as partes, existem desejos, afeto, amor, porém, em meio às estatísticas, uma conta não bate: o tempo de espera por uma família no cadastro nacional de adoção e número de crianças para adoção brancas, pardas e negras.

 

Os números são objetivos e retratam uma realidade dura e crua: crianças pretas e pardas demoram mais na fila de espera quando se comparado a crianças brancas. De acordo com dados do Sistema Nacional de Adoção, o perfil mais procurado é de crianças recém-nascidas brancas. Quanto maior for a idade e o escurecimento da pele, maior é o tempo de espera da criança na fila da adoção. Em Aracaju, segundo o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), 25 crianças estão aptas à adoção. Destas, 21 são pardas ou negras, o que representa 84% do total de crianças que estão à espera de um novo lar.

 

A inserção da criança na lista de adoção não ocorre instantaneamente, assim que ela chega à unidade de acolhimento institucional. Durante o período em que a criança está acolhida, os profissionais realizam uma série de trabalhos com o objetivo de restabelecer os vínculos familiares. Se o processo de reinserção familiar falhar, e se não houver nenhuma forma da criança ficar com a família extensa, ela é inserida no CNA.

 

Tendência de Avanço

 

Segundo dados do cenário nacional, em 2015, o número de pretendentes que não tinham preferência por cor era de pouco mais de 15 mil. Hoje, conforme dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), dos mais de 46 mil pretendentes à adoção, mais de 24 mil não têm preferência por cor.

 

Para a comunicóloga e agente política do movimento pela adoção responsável, Eloísa Galdino, os dados mostram um avanço, mas ainda é necessário um trabalho de conscientização maior. “Dos 46 mil pretendentes, ainda temos cerca de 22 mil que optam por indicar a cor de preferência da criança. E quando vamos analisar as indicações, as crianças pretas, são sempre as últimas entre as preferências. Vejam, estamos falando de preferência, como se esses meninos e meninas fossem mercadorias. Precisamos debater sobre esse tema. São necessárias ações reflexivas para mostrarmos que o que está em questão aqui não é simplesmente a cor da criança, mas, sim, uma identidade, uma história, que devem ser respeitadas”, frisa.

 

Preconceito e Racismo

 

Muitas são as justificativas quando se trata da indicação da cor de preferência da criança, que vão desde simples falas do tipo “a criança não pode se sentir diferente” até “não queremos que percebam que nosso filho é adotivo por causa da cor”. Falas repletas de preconceito e até de marcas do racismo estrutural, avalia Galdino. “São muitos os sentimentos quando os pretendentes decidem adotar um filho. E o sentimento de afeto, amor, vontade de proteger tem que falar mais alto na hora de um processo tão intenso como é o da adoção. Falas como essas são carregadas de preconceito, discriminação, consequências do racismo estrutural. Precisamos enfrentar esse tipo de discurso, propor reflexões e mostrar que a adoção é um ato que não pode ser definido pela cor da pele da criança”, opina.

 

Amor à primeira vista

 

Eloísa é mãe da pequena Maria Vitória, criança negra, que está prestes a completar cinco anos. Há quase cinco anos , a pequena Maria chegou à família para preencher ainda mais o ambiente familiar e distribuir muito amor. “Hoje, eu não consigo me ver sem minha Maria. Cada dia é uma experiência nova, um desafio diferente. Maria me transforma. Ver o crescimento dela, a formação de sua personalidade, as suas descobertas, não tem preço. Maria tem amor, birra, aprendizagem, descobertas.

 

Tudo igual, guardando as especificidades dela: é uma menina negra que chegou pelo caminho da adoção. E foi um encontro de almas desde o primeiro dia. Foi aí que eu descobri que amor à primeira vista realmente existe. E é isso que os pretendentes pela adoção precisam saber. Que o ato de adotar é um ato de acolher, de aprender, de ensinar, de proteger, de ser amado por esses seres que chegam em nossas vidas para trazer alegria, amor e cumplicidade. A adoção é um processo rico demais para ser limitado ou definido a partir da cor da pele”, reforça Eloísa.

 

Pai de Menina

 

O engenheiro e empresário Jorge Santana, homem branco, pai de Maria e de outros dois filhos biológicos, desconhece amor igual. “Eu tenho dois filhos biológicos, Maria é minha terceira filha. Não há diferença no amor. Não há espaço para diferenciação, preferência. O amor é o mesmo. É mágico. Maria me proporciona experiências ao ser pai de menina que desconhecia até então. Eu sou feliz com minha pequena. Precisamos dessa consciência coletiva em relação aos pais que estão na fila de espera. Não há espaço para escolhas. É necessário respeitar as diferenças e mergulhar nesse amor, que é incondicional”, diz Jorge.

 

|Fonte: Assessoria de Comunicação

||Foto: Divulgação

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